"É preciso disputar uma eleição para chegar à Presidência", diz Lula
Com auditório lotado de professores, funcionários da comunidade escolar e estudantes, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez discurso emocionado na última sexta dia 9
Com auditório lotado de professores, funcionários da comunidade escolar e estudantes, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez discurso emocionado, nesta sexta (9), sobre os avanços na educação que o Brasil teve durante seus dois governos e que tiveram continuidade nos mandatos da presidenta Dilma Rousseff.
Organizado pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) e outras entidades, o Encontro de Lula com a Educação ocorreu no Anhembi, região norte de São Paulo, e contou com a participação de diversas organizações.
O ato foi uma celebração aos avanços obtidos nos últimos anos que ajudaram a ampliar e a democratizar o acesso à educação em todos os níveis. A atividade também é uma das muitas iniciativas que têm ocorrido pelo Brasil contra o golpe, articulado por setores que não concordam com a reeleição do governo democrático e popular da presidenta Dilma Rousseff.
Presidente da CUT São Paulo, Douglas Izzo lembrou que os setores que querem destituir a presidenta são os mesmos que desejam acabar com os direitos sociais e trabalhistas. “Quem está por trás do golpe é a Fiesp, são os banqueiros, é a elite brasileira que quer chegar ao poder sem voto. E o projeto deles é mexer nas leis trabalhistas, aprovar a terceirização, privatizar as empresas públicas do país e rebaixar as condições de vida do povo brasileiro”, alerta.
Douglas, que também é professor, disse ser fundamental, nesta etapa decisiva, a militância sair às ruas para garantir que não haja retrocessos. O dirigente convocou os participantes a irem para os atos previstos para o dia 17, no próximo domingo.
Durante a sua fala, Maria Izabel Noronha, a Bebel, presidenta da Apeoesp, disse que os professores não podem se omitir diante da conjuntura e da tentativa de golpe. “Não podemos deixar de conversar com nossos alunos. Devemos explicar que esse falso impeachment que é um golpe. Nós, professores, alunos e funcionários temos que admitir o que foi feito nesses 12 anos de governo Lula e Dilma na educação”.
De acordo com Bebel, se o golpe acontecer, será um “retrocesso para a sociedade, para a educação”. “Significa que vamos ficar de joelhos novamente para o FMI (Fundo Monetário Internacional), que irá ditar normas aqui no país", aponta a dirigente.
Representando os estudantes, Rafaela Bueno, lembrou das manifestações dos secundaristas contra a proposta do governo do Estado de São Paulo de “reorganização” do ensino público. “As ocupações foram uma vitória dos secundaristas e temos que lutar, neste momento, contra essa direita que deseja o golpe”, disse.
Ângela Meyer, presidenta da União Paulista dos Estudantes (Upes), destacou a repressão que os estudantes secundaristas sofrem com a violência policial do governo Alckmin e com o desvio da merenda escolar. “Nós (secundaristas) estamos na luta e viemos dizer que somos filhos do Brasil. Vamos defender a democracia”.
Brasil avançou
Não diferente de todos os eventos em que marca presença, o ex-presidente foi recebido entre gritos e cantos da plateia.
Ao lembrar das conquistas sociais durante seu governo e o de Dilma, sobretudo, os voltados à educação, citou a criação do Programa Universidade para Todos (Prouni), que beneficia estudantes com bolsas em faculdades, a ampliação do número de universidades federais e os programas de cotas, ações que colaboraram para reduzir a desigualdade. “Pobre não era problema, pois ele passou a ser a solução para esse país”, disse referindo-se aos retornos que o Brasil teve após investir na educação.
Em seguida, o ex-presidente comentou sobre o atual momento político. Citando a recente delação divulgada na mídia, Lula ironizou a seletividade das investigações pelo fato de nenhum político tucano aparecer nas acusações, sendo que a empreiteira Andrade Gutierrez também doou para campanhas do PSDB. “Essa empresa é de Minas e sabidamente é muito ligada aos tucanos, mas na imprensa só aparece o PT. Aí eu fico pensando que parece que existem dois cofres (da empresa): um com dinheiro benzido e um com dinheiro podre. E o PT só vai no podre”.
Falou sobre as muitas denúncias que surgem sobre ele, sem nenhuma ter sido provada até o momento. Apesar disso, afirma não guardar rancor dos que insistem em desmoralizá-lo. “Eu só espero que quando tudo isso terminar, eles peçam desculpas”.
Lula disse que diariamente a imprensa tradicional promove ataques ao governo da presidenta Dilma e tenta criminalizar os movimentos populares e sindical, criando um clima de ódio no país. “O resultado é que agora temos pessoas sendo agredidas nos restaurantes, nos aeroportos, nas escolas. Tem até uma pediatra que se recusa a atender uma criança porque o pai dela é petista”.
Sobre o PMDB, o ex-presidente criticou novamente o programa proposto pelo partido chamado “Uma ponte para o futuro”, do qual trarão inúmeras consequências para os trabalhadores, pois busca reduzir direitos e aponta a privatização de empresas públicas como solução para a economia.
Em mensagem ao vice-presidente Michel Temer, Lula pediu respeito ao processo democrático, lembrando que impeachment sem crime de responsabilidade é golpe. “E quem quer golpe é porque quer encurtar a sua chegada ao governo. Eu queria dizer ao companheiro Temer, com todo o respeito, que se quiser chegar à Presidência, dispute uma eleição”.