Fim da escala 6×1 vira símbolo da luta dos trabalhadores no 1º de Maio em Campinas
Em um contexto histórico de precarização do trabalho, parlamentares, sindicatos e movimentos populares apontam a jornada exaustiva como o principal desafio da classe trabalhadora no Brasil
Neste 1º de Maio, as ruas de Campinas voltam a ser ocupadas por vozes que ecoam o cansaço de uma classe trabalhadora exaurida. A data, marcada historicamente por resistência e conquistas sociais, ganha neste ano um eixo central claro: o fim da jornada de trabalho na escala 6×1. Essa é a principal bandeira que unifica parlamentares, sindicalistas e movimentos sociais ouvidos nesta reportagem.
A luta pela redução da jornada não é nova, mas ganha fôlego diante de uma realidade marcada por adoecimento, perda de vínculos familiares e o esvaziamento da vida social fora do ambiente de trabalho. “O trabalhador mal tem tempo para viver. A juventude está sendo esmagada por um sistema que esgota e não oferece perspectiva”, afirmou a vereadora Mariana Conti (PSOL), ao criticar a reforma trabalhista que, segundo ela, intensificou a exploração sob o falso argumento de geração de empregos.
Para a também vereadora Fernanda Souto (PSOL), a pauta do fim da escala 6×1 precisa estar ao lado de outras urgências, como os direitos dos trabalhadores de aplicativo, a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil e a taxação das grandes fortunas. “Essas medidas são essenciais para corrigir distorções que afetam diretamente quem sustenta o país com sua força de trabalho”, pontuou.
A vereadora Guida Calixto (PT) ratificou que o dia 1º de maio, conhecido mundialmente como o Dia Internacional de Luta da Classe Trabalhadora, é uma data marcada pela memória das lutas históricas dos trabalhadores e trabalhadoras por direitos e dignidade. Mais do que uma comemoração, é um momento de reafirmar as batalhas imediatas por melhores condições de trabalho, salários justos, redução da jornada e acesso a serviços públicos de qualidade. “Ao mesmo tempo, o 1º de maio também simboliza a resistência e o sonho de um futuro emancipado, no qual não existam explorados nem exploradores — uma sociedade socialista, construída com base na solidariedade, na igualdade e na justiça social”, disse a Guida ao Portal Porque.
A defesa dessas pautas é reforçada pelo coordenador da CUT Campinas e dirigente do Sinticom, Jucelino Júnior. Para ele, o desafio deste 1º de Maio é fazer com que as reivindicações da classe trabalhadora saiam das ruas e entrem efetivamente na agenda do país. “É a pauta do fim da jornada 6×1, a redução da jornada de trabalho, a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil e a taxação das grandes fortunas para compensar esses valores, além de manter viva a democracia do país. Esses são os desafios nesse momento”, destacou.
Já o vereador Wagner Romão (PT) ressalta que a redução da jornada é uma demanda histórica do movimento sindical e que precisa ser reforçada em um contexto de avanço tecnológico e aumento das desigualdades. Ele ainda chama atenção para outras frentes de luta, como a proteção dos trabalhadores precarizados por aplicativos, a formalização do mercado de trabalho e o combate ao assédio nas instituições públicas e privadas. “É fundamental atualizar legislações que protejam quem sofre violência moral e sexual nos ambientes laborais. Nossa proposta na Câmara de Campinas caminha nessa direção”, explicou.
A deputada estadual Ana Perugini (PT) destaca que a raiz dos desafios está na concepção de um sistema que transforma pessoas em peças descartáveis da engrenagem do capital. Para ela, o fim da jornada 6×1 representa mais do que uma demanda trabalhista — é a denúncia de uma lógica de exploração refinada que escraviza em nome da produtividade.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Energética (Sinergia-Campinas), Carlos Ceccato, avalia que, apesar de avanços sociais importantes, o fosso entre capital e trabalho permanece profundo. Segundo ele, o fortalecimento dos sindicatos é fundamental para reverter esse quadro. “Precisamos disputar a consciência da classe trabalhadora, combater o individualismo e a lógica da meritocracia que alimentam as desigualdades. A democracia é nossa aliada nessa disputa de ideias”, afirmou.
“A classe trabalhadora vive sob intenso ataque no contexto atual. As pautas unificadoras dos trabalhadores precisam ser a redução da jornada de trabalho sem redução de salário, o fim da escala 6×1, a eliminação do trabalho em ambientes insalubres, o fim da terceirização e contra a legalização do modelo PJ pelo STF”, avaliou o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e Região, Jair dos Santos.
Para a Intersindical, o momento é simbólico. A mobilização de entregadores por aplicativo e de trabalhadores da escala 6×1 revela uma nova composição da luta de massas no país. “Essas duas frentes reacendem o debate público e representam uma chance real de fortalecimento do movimento sindical”, diz a nota da central.
A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), por sua vez, reforça a necessidade de unidade diante de um cenário político marcado pelo avanço da extrema-direita e por crises econômicas persistentes. O presidente da entidade, Adilson Araújo, defende um ato nacional unificado neste 1º de Maio como resposta à ofensiva contra os direitos trabalhistas.
Na mesma linha, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) chama atenção para o valor simbólico da data. “Sem os trabalhadores, o país não anda. Por isso, é justo e necessário que se garanta a essa base, condições dignas de vida e de trabalho”, afirma a entidade.
Mais do que um dia de memória, o 1º de Maio de 2025 pede organização e resistência. As 24 horas deste feriado nacional são apenas o ponto de partida para os outros 364 dias de luta por um país mais justo e solidário com quem o constrói cotidianamente com o próprio suor.
Fonte: Portal Porque